A FAMÍLIA DO COLONO ALEMÃO WEBER (1858)
José Kopke Fróes
"Fonte preciosa de informações sobre os
primórdios de Petrópolis, 'O Mercantil'”, primeiro jornal de nossa
terra, fundado em 3 de março de 1857, pelo lusitano Bartholomeu Pereira
Sodré, nos dá notícia de tudo e de todos.
Não raro, encontramos naquele magnífico bi-semanário curiosidades dignas
de serem transcritas, como a que, em homenagem à grande data
petropolitana de 29 de junho, fazemos hoje, lembrando naquele
trabalhador modelar a figura de muitos dos colonos que construíram nossa
cidade.
De 'O Mercantil' de 9 de outubro de 1858:
“Causa verdadeiro prazer o visitar-se a colônia do Palatinato,
pertencente ao alemão Weber. De quantas temos visto em Petrópolis, é
esta a mais bem dirigida e a melhor aproveitada.
O terreno da colônia consta de duas porções distintas, uma plana e outra montanhosa e muito íngreme.
É naquela que o nosso alemão trabalha, fazendo as suas plantações de
onde tira produtos para a sua subsistência e para a de sua família,
constando de mulher e um casal de filhos.
Esta pequena planície, que orçamos em cerca de 3.000 braças quadradas,
acha-se dividida em quarteirões apropriados aos diversos gêneros de
cultura. Dois são para a plantação do centeio, um para a de aveia, uma
boa porção para o plantio de batata e outra para a de hortaliças,
flores, árvores frutíferas, etc.
As forças de que dispõe o colono são o casal de filhos para a horta e um
cavalo ruço, sofrivelmente conservado, para o trabalho grande. Isto
para o arroteamento e amanho das terras, feito industriosamente ao
socorro de um pequeno arado, que é arrastado pelo ruço e dirigido pelo
lavrador. Quer o cavalo, quer o senhor estão traquejados e provectos
nesta espécie de serviços, entendem-se perfeitamente e vivem em paz e na
melhor harmonia.
Há atualmente ali (1858) duas plantações de centeio, que cresce na
altura de cinco palmos e acha-se todo espigado, sendo as espigas
tamanhas e bem granadas como se fora na Europa. Esta espécie de cultura,
pela sua novidade talvez, produz ao brasileiro uma curiosidade cheia de
emoção e prazer, porque prova-lhe a riqueza da variedade do solo
pátrio, - foi isto o que precisamente sentimos.
A horta está toda perfeitamente cultivada: há ali diversas qualidades de
hortaliças e legumes, há uma excelente parreira, estendida em latada
por uma larga rua, há flores lindas, muitos pessegueiros de qualidade,
macieiras, etc ...
O terreno montanhoso é o quinhão reservado para o ruço, companheiro de
trabalho do colono, e a produção de capim, para uma vaca que vive na
estrebaria, por se achar presentemente em estado interessante.
A vivenda ou locanda da família é uma casa coberta de lousa de 30 palmos
de largura e 60 de comprimento, dividida comodamente, e dentro da qual
não falta a mobília, e onde o chefe da família tem uma excelente cama de
cedro à moderna, perfeitamente acabada e envernizada para si e sua boa
Eva.
Os trastes e esta cama são do trabalho de um filho marceneiro, que vive já sobre si.
Esta família vive feliz e goza saúde, está bem nutrida e vestida, vivendo ali mais feliz certamente que muitos Cresos.
Os filhos falam belamente o português, o pai muito mal e a mãe não pesca palavra.
Deus os proteja e sejam felizes para modelo entre colonos”.
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